Marcello Ribeiro, do O Globo - Portal
Aprendiz - 26/02/2013 - São Paulo, SP
Atingido com um
pequeno vaso de plantas na cabeça, o professor de História
Antonio Mario Cardoso da Silva foi para o pronto-socorro e fez boletim de
ocorrência na polícia. O autor da lesão corporal: um
aluno. A agressão aconteceu numa escola pública de Diadema,
na Grande São Paulo, há cerca de um ano, e foi presenciada
pela mãe do estudante. Horas antes, o jovem, da 6ª série
do ensino fundamental, havia sido repreendido por Silva por mau
comportamento.
— Se fosse
um objeto maior, ele poderia ter me matado — diz o professor.
Como esse, casos
de agressão física entre professores e alunos têm se
repetido nas escolas públicas e privadas de todo o país.
Segundo dados do Ministério da Educação (MEC)
tabulados pela Fundação Lemman e pela Meritt
Informação Educacional, 4.195 professores de Língua
Portuguesa e Matemática que dão aulas para alunos de 5º
e 9º ano do ensino fundamental disseram que foram agredidos
fisicamente por estudantes dentro de colégios em 2011. O
número representa 1,9% dos 225 mil docentes que responderam a
questionário aplicado durante a Prova Brasil, exame realizado pelo
MEC.
Para tentar
reduzir os episódios de violência no ambiente escolar,
colégios de todo o país estão oferecendo cursos de
resolução de conflitos para professores e alunos, e apostando
nas técnicas de mediação para promover o
diálogo e evitar o confronto.
O levantamento das
respostas da Prova Brasil mostra que o número de professores
agredidos em 2011 é similar ao de 2007, quando 2,3% dos docentes
(6.677) afirmaram que foram agredidos por alunos.
Professora por 23
anos, Nádia de Souza Barbosa, de 56 anos, foi agredida por um aluno
de 5ª série, que bateu a porta da sala três vezes em suas
costas. Dias depois, foi ameaçada pelo irmão do aluno, e a
parede da sala de aula foi pichada com o desenho de um fuzil. Segundo
Nádia, na escola pública onde ela dava aulas, na Zona Sul do
Rio, por diversas vezes alunos jogavam urina nos professores do alto de uma
escada. Nádia acabou sendo aposentada.
— O
médico me diagnosticou com depressão, síndrome do
pânico e transtorno de estresse pós-traumático. Fiquei
mais de dois anos em tratamento. Não tenho mais
condições de voltar às salas de aula — disse a
professora aposentada de História.
Para tentar reagir
aos casos de violência, sindicatos de professores no país
têm criado canais para receber denúncias dos docentes. O
Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais, que representa
professores de escolas particulares, recebeu uma denúncia de
violência nas escolas a cada três dias entre 2011 e 2012,
incluindo agressão física, verbal e dano ao
patrimônio.
O Sindicato dos
Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp)
estima que os casos de agressão a professores estejam crescendo
cerca de 20% a cada semestre. Entre 2008 e 2011, o sindicato recebeu 157
denúncias de agressão, roubo, vandalismo e ameaças em
escolas paulistas.
Mas também
há casos de agressões contra alunos. No questionário,
3.327 professores (1,5%) relataram que em 2011 houve agressão
física contra aluno cometida por professor na escola em que atuavam.
Em 2007, 4.197 professores (1,62%) relataram que alunos foram agredidos
fisicamente por docentes.
Foi o que
aconteceu com uma aluna de 11 anos de uma escola municipal do Rio em 2010,
quando um professor jogou um apagador no rosto dela durante a aula. O caso
foi noticiado pela imprensa, e o professor foi transferido para outra
escola. A família desistiu de entrar com ação por
danos morais por temer represálias e a transferência da garota
para um colégio longe de casa.
— Mas
até hoje chamam ela de “garota do apagador” na escola
— conta a advogada da família da adolescente, Consuelo de
Freitas.
Na tentativa de
diminuir os casos de violência no ambiente escolar, colégios
de vários estados do país estão investindo na
formação de educadores para que eles saibam lidar melhor com
a questão. No Rio, muitas escolas têm optado por oferecer
cursos de mediação para professores e alunos, para que eles
priorizem o diálogo para resolver os conflitos.
Educadores de
cerca de 150 escolas estaduais e privadas já fizeram curso de
mediação escolar promovido pelo Tribunal de Justiça do
Rio (TJ-RJ), incluindo colégios como Teresiano e São Bento.
Segundo a desembargadora Leila Mariano, responsável pelo projeto do
TJ-RJ, o número de casos de violência na escola que chegam ao
Judiciário impressiona. Para ela, muitas vezes uma sentença
judicial não é o suficiente.
— Nas
escola, as relações são continuadas. A professora e o
aluno que brigam estão ali no dia seguinte. Se a gente não
tentar resolver o problema emocional deles, a questão não vai
parar ali — diz a desembargadora.
Desde 2011,
alunos, diretores, professores de escolas municipais têm recebido
treinamento sobre resolução de conflitos, abordando temas
como mediação e justiça restaurativa. Os cursos
já foram oferecidos a docentes e estudantes de cerca de 60
colégios e em 2013 devem chegar a outras 20 escolas localizadas em
áreas conflagradas ou recém-pacificadas. Além disso,
inspetores de disciplina também receberão treinamento.
— Os alunos
(que passaram pelo treinamento) já começaram a disseminar na
escola um comportamento diferente. Eles ensinam os colegas a aprender a
ouvir — disse André Ramos, responsável pelo programa
Escolas do Amanhã, da prefeitura do Rio.
No Pará,
300 professores e assistentes sociais de escolas estaduais farão
curso de especialização de um ano e meio para saber lidar com
as diversas formas de violência na escola.
— Queremos
construir planos de convivência na escola — contou Izabela
Jatene, coordenadora do programa Pro Paz, do governo do Pará.
Professores
relatam uso de armas
Respostas de
professores a questionários aplicados durante a Prova Brasil —
exame do Ministério da Educação (MEC) — nos
últimos anos mostram que as armas estão presentes nas
escolas. Segundo 1.929 docentes que lecionam Língua Portuguesa e
Matemática para alunos de 5º e 9º ano do Ensino
Fundamental, alunos frequentaram a escola portando arma de fogo em 2011. O
número corresponde a 0,85% do total de 224.743 respostas
válidas dadas por professores ao questionário da Prova
Brasil. Além disso, 9.079 professores disseram que, em 2011, houve
casos de alunos que entraram na escola com facas e canivetes.
Em 2007, 3.247
professores (1,14%) responderam que alunos entraram na escola com armas de
fogo, e 14.855 (5,17%) contaram que haviam visto estudantes com facas e
canivetes. Os dados são do MEC foram tabulados pela
Fundação Lemman e pela Meritt Informação
Educacional.
Em abril de 2011,
12 crianças foram mortas, e 12 ficaram feridas depois que um
ex-aluno entrou na escola Tasso da Silveira, em Realengo (RJ), e atirou.
Wellington de Oliveira, de 23 anos, invadiu o prédio com dois
revólveres, cometeu o massacre e se matou.
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