terça-feira, 1 de maio de 2012

Alfabetizar é Preciso!


Alfabetizar é Preciso

 Maria Eliana Lopes de Souza
Pedagoga

No topo das atuais reclamações sobre o ensino no Brasil, estão às relativas à alfabetização, ou a ausência dela, não é incomum termos conhecimento de casos de alunos que concluíram as séries iniciais do ensino fundamental sem saber ler. Educandos que engrossam as fileiras dos semi-alfabetizados e analfabetos funcionais. 
As atuais políticas educacionais estão demasiadamente focadas nas estatísticas, ou seja, é importante reduzir os índices de analfabetismo e repetência no Brasil, no entanto a preocupação de alfabetizar para o desenvolvimento não faz parte das estatísticas. Com isso se cria uma massa de educandos que ao longo do processo educativo serão excluídos ou se excluirão.
De um lado a grande vilã seria a progressão automática a fim de ocultar a repetência e de outro a própria repetência vista como castigo. 
Como não pretendo nesse artigo proclamar verdades absolutas, e pretensamente definir a questão, irei apenas expor minha experiência como professora das séries iniciais do ensino fundamental que enfrenta com dificuldades a questão da alfabetização
Na grande maioria dos casos, os educandos vinham de escolas cuja estrutura era precária, oriundos de turmas com 30 alunos ou mais, filhos de pais analfabetos e com pouco ou nenhum contato com textos diversos. Bem até aqui não contei nenhuma novidade, qualquer educador com experiência em sala de aula sabe qual é o perfil do educando com problemas de alfabetização. O que realmente me chocava era a visão que eles tinham de si mesmos. Consideravam-se “burros” e seu mecanismo de defesa era a agressão verbal. A maior dificuldade que apresentavam era com relação aos textos, não conseguiam sair das palavras curtas e conhecidas.
Um fator comum entre os relatórios aos quais tive acesso era a errônea interpretação de alguns professores sobre as teorias de alfabetização, pois na verdade não sabiam até que ponto deveria permitir a criança escrever e ler errado nutrindo com isso uma espécie de vício lingüístico. 
Como educadora minha função era trabalhar as dificuldades apresentadas e utilizar com cada educando o método que ele melhor compreendesse, percebemos nessa situação que o interesse deveria partir do educando para que e o educador pudesse aumentar seus conhecimentos. Entretanto trabalhávamos com crianças completamente desestimuladas, desinteressadas e que com a idade em que se encontravam já carregavam o rótulo de fracassadas. 
Diante dessa situação levantada, o que você educador faria? Nem tudo que deu certo na Argentina, Alemanha, México ou Espanha garante iguais resultados aqui. Cada escola deve a partir da análise de seu público, utilizar o método que melhor se adapte a sua realidade, pois não existem respostas prontas ou métodos a serem utilizados como receita de bolo. 
Ter idéia de que todo educador é e sempre será o diferencial no processo educativo, no qual não existe apostila, livro didático ou programa de computador algum que o substitua. Refletir que o fracasso de nossos educandos é o nosso fracasso, nos coloca a beira da mais séria situação em que muitas vezes as professoras trabalham basicamente com giz e saliva. Educar é uma arte, arte de ensinar, de aprender e acima de tudo de adaptar-se. 
Sempre que uma criança deixa de ser alfabetizada na época certa e freqüentando a escola, a primeira pergunta que as pessoas fazem é: Como a escola não percebeu isso? Nossa falta de estímulo, material de apoio ou capacidade não são justificativas para um problema tão sério. Devemos cobrar mais de nossos diretores, equipe pedagógica e administrativa, caso contrário estaremos sentenciando nossos educandos a ficarem a margem do processo educativo, e ainda que sem intenção, criando uma massa de excluídos. 

(Publicado em 14/01/2009 )

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