quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Para tirar dúvidas, crianças preferem Google aos pais!



OCIMARA BALMANT - FOLHA DE SÃO PAULO - 23/09/2012 - SÃO PAULO, SP
Nem professor nem pai nem mãe nem parente algum. Quando os alunos têm dúvidas, o campeão de audiência e de credibilidade é o Google. A constatação é de uma pesquisa realizada por um instituto britânico que ouviu 500 crianças com idades entre 6 e 15 anos. Do total de entrevistados, 54% preferem consultar o buscador quanto precisam checar alguma informação.
E as descobertas não pararam por aí: mais de um terço (34%) das crianças não acredita que seus pais sejam capazes de ajudá-las a fazer o dever de casa; 14% não acham seus pais inteligentes.
Isso se deve, além da popularização da internet, a outras duas razões, avalia a psicóloga Natércia Tiba: a menor disponibilidade dos pais e a tendência imediatista das novas gerações.
`De modo geral, pai e mãe estão no mercado de trabalho, logo não estão tão à disposição. Soma-se isso ao fato de essas crianças crescerem num ambiente em que tudo é fornecido muito rápido e está explicada a popularidade do Google. Quem é que vai querer olhar no índice de uma enciclopédia?`
De fato, a pesquisa mostrou que, imersos no mundo tecnológico, grande parte desses estudantes também passa bem longe dos materiais impressos de consulta: 19% deles não sabem o que é um dicionário impresso e 45% nunca usaram uma enciclopédia. Aliás, desconhecem até o significado do termo. Numa tentativa de adivinhar o que seria uma enciclopédia, as respostas foram de meios de transporte a instrumento cirúrgico.
A pesquisa, como se imagina, não vale só para a Grã-Bretanha. Unanimidade mundial, o site de buscas também é a página inicial de muitas crianças brasileiras. É o caso de Carlos Alberto Koji Kamei Ohara, de 10 anos.
Aluno do 5.º ano do ensino fundamental no Colégio Santa Maria, há três anos ele usa o Google todos os dias para fazer a tarefa de casa. `Aos 8 anos, eu aprendi a pesquisar. E me ajuda muito, principalmente em português, história e geografia. E não sou só eu que gosto. Todos os meus amigos também usam`, diz.
Mas sem o truque do `ctrl-C, ctrl-V`. O garoto explica que, para cada tema que precisa estudar, lê o conteúdo de pelo menos dois ou três links e depois reescreve com suas próprias palavras. Mas dá para confiar nas informações? `Quase sempre.`
Alerta. Essa pequena margem de desconfiança ele adquiriu nas aulas de biblioteca. Praticamente uma disciplina vintage, o conteúdo entrou no currículo exatamente para não deixar que a geração Y se esqueça dos métodos tradicionais de pesquisa. `Eles passeiam, visitam os corredores, aprendem como funciona uma biblioteca escolar`, explica Cláudia Regina de Freitas, responsável pelas aulas quinzenais dos alunos do infantil ao 5.º ano, no Colégio Santa Maria.
Nos primeiros encontros, a afirmação dos alunos é inevitável: `Mas o Google é mais rápido`. É nesse momento que Cláudia aplica uma gincana: propõe um tema e divide a turma ao meio: metade pesquisa no Google e a outra parte se dedica aos livros. `No fim, muitos percebem que a enciclopédia tem informações mais completas, mais fotos. Com isso, não queremos que abandonem a internet, mas que não tenham resistência aos livros.`
O resultado da pesquisa sinaliza uma mudança sem volta de paradigma e não comporta resistência, mas sim adaptação, avalia Priscila Gonsales, diretora do Instituto Educadigital. `Em vez de negar, precisamos partir do pressuposto de que o Google é um repositório, mas a inteligência é de quem está pesquisando.`
Com base disso, explica, é preciso que essa educação digital siga três diretrizes: ensinar o aluno a pesquisar, a se comunicar e a publicar na rede. No que se refere à pesquisa, os alunos precisam ser orientados a diferenciar e avaliar a procedência do domínio - se é `ponto org`, `ponto com` ou `ponto gov` - e sempre indicar a fonte de onde a informação foi retirada.
Contribuição. A comunicação deve ser estimulada como forma de troca de aprendizagens. Por meio da internet, os alunos podem desenvolver um projeto em parceria com estudantes de outras escolas.
Por fim, é importante que crianças e adolescentes aprendam a publicar, e isso não significa apenas o domínio das ferramentas técnicas, mas a responsabilidade envolvida na produção e divulgação de conteúdo.
`Com isso, o professor não precisa mesmo ter todas as respostas, só precisa orientar corretamente`, conclui Priscila.

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